A Revolução das Mulheres – Aristófanes
Època: cerca de 400 a.C.
Local: Atenas
Cenário; Praça pública em Atenas, de onde saem duas ruas. Ainda é noite. Estão reunidas várias mulheres.
Valentina:(com uma lanterna na mão.)
Será possível? Apesar de termos combinado tudo direitinho em nossa última reunião secreta, nenhuma das nossas correligionárias apareceu até agora! E está chegando a hora da assembléia! Temos de ocupar já os lugares onde até agora só os homens públicos falavam das mulheres públicas. È hora de nos sentarmos lá. Finalmente vejo uma luz que se aproxima.
(Dirigindo-se às outras mulheres)
Vamos nos esconder! Pode ser um homem!
1ª mulher: (dirigindo-se a Valentina.)
É tempo de marchar, pois o encarregado de convocar as assembléias já deu o segundo sinal quando eu vinha para cá.
Valentina: Eu passei a noite esperando vocês. Lá vem a Esquerdina e a Reformilda! Vocês querem fazer o favor de apressar-se! A Brigolina propôs que a última a chegar pagaria o cabeleireiro para todas.
2ª mulher: Vejam só! Lá vem a Comiciana, toda desajeitada com as sandálias do marido! Aliás, deve ter sido a única que pôde sair calmamente de casa: o marido dela não é de nada.
1ª mulher: E a mulher do padeiro, você está vendo? Lá vem a Populária de lanterna na mão.
3ª mulher: Foi com muita dificuldade que sai de casa cedo, o meu marido tossiu a noite inteira, engasgado com uns amendoins que comeu.
Valentina: Então vão sentando nesses bancos da praça. Agora que estamos todas juntas quero ver se as resoluções de nossa última reunião foram executadas devidamente.
3ª mulher: De minha parte, sim. Estou com as axilas mais peludas que um espanador, conforme combinamos. Além disso, toda vez que meu marido saía para vir discutir política eu tomava um pouco de sol, para parecer mais máscula.
Valentina: E todas estão com as barbas que combinamos trazer?
1ª mulher: Veja que barba linda! (mostrando a barba postiça)
2ª mulher: E a minha? Parece a do Lula.
Valentina: Muito bem. Quanto ao resto, vejo que fizeram tudo como havíamos combinado. Estão com as roupas, com o calçado, com tudo dos maridos.
Podemos começar ensaiar o que diremos na tribuna política.
1ª mulher: E como nós, as mulheres, criaturas delicadas e de coração fraco, iremos falar ao povo?
Valentina: Do melhor modo possível, pois dizem que falam melhor os homens mais rebolantes. Se é o caso de rebolar esta para nós!
2ª mulher: E qual é a mulher que precisa treinar para falar?
Valentina: É sempre bom. Ponham as barbas e virem homens.
3ª mulher: Parecemos espanadores com essas barbas.
Valentina: Vamos começar. Quem quer a palavra?
2ª mulher; Eu! (sobe na tribuna) Agradar-me-ia mais que alguém, mais eloqüente e com idéias mais claras, viesse falar-lhes, permitindo-me continuar tranqüilamente sentado no meu lugar. Num momento como este, todavia, seria inadmissível o silêncio, agora que há coisas tão sérias a fazer como... (pausa) como mandar consertar essas calçadas de mosaico em que se prendem os saltinhos dos sapatos altos de nossas mulheres. É a minha opinião, por Nossa Senhora do Parto!
Valentina: Por Nossa Senhora do Parto! Sua louca! Onde você está com a cabeça, Desça daí já!
2ª mulher: Que foi que eu fiz?
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