terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O juiz de paz na roça - trecho da peça de Martins Pena - teatro de costumes

O Juiz de paz da roça – de Martins Pena

Cena II – Entra José com calça e jaqueta branca.

José- Adeus, minha Aninha! (quer  abraçá-la)
Aninha- Fique quieto. Não gosta destes brinquedos. Eu quero casar-me com o senhor, mas não quero que me abrace antes de nos casarmos. Esta gente quando vai à Corte, vem perdida. Ora diga-me, concluiu a venda do bananal que seu pai deixou?
José- Conclui.
Aninha- Se o senhor agora tem dinheiro, por que não me pede a meu pai?
José- Dinheiro? Nem vintém!
Aninha- Nem vintém? Então o que fez do dinheiro? É assim que me ama? (chora)
José- Minha Aninha, não chores. Oh, se tu soubesses como é bonita a Corte! Tenho um projeto que quero te dizer.
Aninha- Qual é?
José- Você sabe que agora estou pobre como Jô, e então tenho pensado numa cousa. Nós nos casaremos na freguesia, sem que teu pai saiba, depois partiremos para a Corte e lá viveremos.
Aninha- Mas como? Sem, dinheiro?
José- Não te dê isso cuidado: Assentarei praça nos Permanentes.
Aninha- E minha mãe?
José- Que fique raspando mandioca, que é ofício leve. Vamos para a Corte que você verá o que é bom.
Aninha- Mas então o que é que  há lá de tão bonito?
José- Eu te digo. Há três teatros, e um deles mayor que o engenho do capitão-mor.
Aninha- Oh, como é grande!
José- Representa-se todas as noites. Pois uma mágica... Oh, isto é cousa grande!
Aninha- O que é mágica?
José- Mágica é uma peça de muito maquinismo.
Aninha- Maquinismo?
José- Sim, maquinismo. Eu te explico. Uma árvore se vira em uma barraca: paus viram-se em cobras, e um homem vira-se em macaco.
Aninha- Em macaco! Coitado do homem!
José- Mas não é verdade.
Aninha- Ah, como deve ser bonito! E tem rabo?
José- Tem rabo, tem.
Aninha- Oh, homem!
José- Pois o Curro dos cavalinhos! Isso é que é cousa grande! Há uns cavalos tão bem ensinados, que dançam, fazem mesuras, saltam, falam, etc. Porém o que mais me espantou foi ver o homem andar em pé em cima do cavalo.
Aninha- Em pé! E não cai?
José- Não. Outros fingem-se de bêbados, jogam os socos, fazem exercícios – e tudo isso sem caírem. E há um macaco chamado Major, que é cousa de espantar.
Aninha- Há muitos macacos lá?
José- Há, e macacas também.
Aninha- Que vontade tenho de ver todas essas cousas! Quando é que você vai casar-se comigo?
José- O vigário está pronto para qualquer hora.
Aninha- Então amanhã de manhã.
José- Pois sim. (cantam dentro)
Aninha- Ai vem meu pai! Vai-te embora antes que ele te veja.
José- Adeus, até amanhã de manhã.
Aninha- Olhe lá, não falte! ( Sai José) (...)

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